17 de abril de 2008

Por que a crônica?

Meus melhores momentos literários me vêm à noite. É na hora da calma, depois que o mundo dorme, que meu cérebro – lado direito, esquerdo, o meio, sei lá – começa a funcionar em escala de palavras ou aleatoriamente elas ficam a borbulhar ali. Borbulham, mudam-se, reviram e mexem-se até que me vejo (ou via?) poeta. Palavra vai, palavra vem e aquilo me incomoda e encanta tanto que não tenho como fugir. Então escrevo. Poesias. Convém dizer que isso não acontece assim como estão imaginando: oh, ela exercita a escrita todos os dias, faz dez poemas por noite. Nada disso, como já disse são momentos literários e isso pode eclodir a seu bel prazer, não é de meu domínio. Graças a Deus, senão já seria escravidão e disso não gosto! É bom explicar também que para tudo em minha vida, é necessária uma grande paixão. Ou estou envolvida com um projeto de vivências, ou a escrita fica no grau zero, como diria Barthes.
Meu diário, ou o que deveria ser lido como, mas não é porque simplesmente recebe minhas “inspirações” uma vez ou outra, deveria ser chamado mensanário, ou trimestranário – eu o chamo de qualquer coisa que possa soar lugar de escrita, algo do tipo: meu caderno de chororô, com seus registros muitas vezes absurdos e triviais, sentimentais, mais vezes, prosa poética para uma única pessoa que permiti ler. Pois bem, em suas páginas há sempre, ou quase sempre, um mesmo começo: “É noite...” ou então, “E é noite novamente” , com algumas variações e semelhanças. Em prosa, lógico. Raramente é dia quando escrevo, o que me leva a crer que a noite em sua escuridão me ilumina.
Todavia, há alguns dias venho sido acometida de uma grande novidade: tem me vindo visitar nos horários mais inusitados, a prosa, mais precisamente, a crônica. Confesso que até estou assustada. Como as palavras, essas danadinhas que estão ali, todas dentro da gente, agora, em mim, resolveram organizar-se em parágrafos e linhas cheias? Logo comigo isso foi acontecer. Logo com uma pessoa que preferia distribuí-las na folha livremente – uma numa linha, a idéia daquela escorregando na outra, um ponto de interrogação entre vírgulas lá no fim da página. E eu que era (?) poeta passei para o lado da prosa. Sou uma vira-casaca literária e estou gostando disso, o que é bem bom.
Não que eu nunca tivesse arriscado. Nas poucas vezes que tentei a prosa, tive até dor de cabeça, coisa rara em mim. Uma vez senti isso por nove longos dias até que terminei um conto de sete páginas. Chamei-o Caleidoscópio. Na verdade era como eu me sentia, toda dividida e misturada ao mesmo tempo. O conto foi bonito, gostei dele, gosto até hoje embora esteja tão reflexivo que muitas pessoas que leram não o conseguiram compreender. Só eu sei o quanto aquilo tudo me custou em neurônios. Se eu fosse escrever um romance, expiraria com certeza pois não tenho fôlego para tanto, os próprios personagens me internariam e eu morreria à míngua num hospício podre e barato de subúrbio. Com a poesia sempre foi mais fácil. Poucas palavras, muita subjetividade e pronto: lá estava ela prontinha e, melhor: dizendo o que tinha que ser dito, sem mais delongas. Agora, a essa hora da noite, aos plenos 43 anos de idade, me vem a crônica como um presente todo embrulhado com papel doce e fitas multicores, gritando para ser aberto e eu posso dizer que estou apaixonada outra vez. E comigo é sempre assim, tem que haver sempre uma paixão que me mova para eu continuar caminhando. Nesse caso, escrevendo, o que pode até dar no mesmo. Bom, acho que tive uma nova idéia!

3 comentários:

Anônimo disse...

Mas olha que loucura... Mesmo sem saber ou perceber, falamos sobre o memso assunto hoje [algo parecido]. Também tenho um caderno, mas de recortes e já tive um, hoje aposentado, somente com poesias e contos da época em que não havia internet e o grande barato era copiá-los todos. Demorei alguns anos para completa-lo e tenho 3 poesias tuas ali, daqueles dos postais, lembra? Quando folhea-lo novamente mando-te os nomes. Aparecerei mais por aqui e escreva muitas crônicas, és fera queridona. beijo

Anônimo disse...

[Bruna] [brukaxu@hotmail.com] [http://blogdabruka.blogspot.com/]
eu volteeeei. x)

Anônimo disse...

Parabéns pela casa nova, minha amiga-irmã!
Está tudo muito lindo por aqui.
És boa de crônicas também.
E as poesias, não aparecerão por aqui?
Obrigada pelas visitas ao meu blog, pelos recados no orkut, por teu carinho sempre.
Sabes que tua amizade é ímpar para mim.
Sucesso!