24 de abril de 2009

Olá, quer teclar?







Olá, quer teclar?

“A literatura é essencialmente solidão. Escreve-
se em solidão, lê-se em solidão e, apesar de tudo,
o ato de leitura permite uma comunicação
entre dois seres humanos।

Paul Auster.


François Mauriac, provavelmente num momento solitário de escritura deixou dito que “Cada um de nós é um deserto।” A solidão do mundo moderno tem levado milhares de pessoas a procurar modos de domá-la, essa fera invisível e dolorosa. Assim, muita gente tem procurado a Internet para encontrar alguém com quem conversar nas noites ou momentos de insônia da alma. É a palavra escrita enviada a longas ou pequenas distâncias, porém não menos significativas.
Da terra do sol nascente, um escritor deixou grifado que “A solidão é o preço que temos de pagar por termos nascido neste período moderno, tão cheio de liberdade, de independência e do nosso próprio egoísmo.” Questiono-me acerca dessa modernidade, das facilidades desse mundo repleto de opções. A noite, os dias porque não dizer?, estão recheados de modelos de diversão – bares, boates, botecos, danceterias, shoppings e afins.
Se há um universo que favorece o conhecimento das gentes, o que leva certas pessoas a procurar no recanto de seus lares, através da tela e das teclas de um computador, a companhia desejada ou sonhada? Seria o medo de tentar, de arriscar? Não sei, mas há algo estranho no ar. Estranho e mágico, vamos ler?
Já conheci muita gente que viveu ou contou histórias sobre relacionamentos que começaram no virtual e tornaram-se reais com direito a felicidades plenas. Já ouvi também muitas outras narrações de gente que entrou pelo cano com patifes que se faziam passar por outra pessoa via rede. A conhecida de uma amiga minha foi conhecer o espanhol por quem se apaixonara via tela e voltou com uma aliança de 30gm de ouro no dedo da mão direita. Largou o namorado enrolão no Brasil, o emprego na universidade, deixou uma banana para o ex-marido, pegou as filhas e está vivendo em uma rica mansão em Madrid – e feliz! Outra teclou numa noite de insônia aquele que dizia ter sonhado anos a fio com um par de olhos negros. Conheceram-se pessoalmente numa noite de junho, na Ilha de SC. Passaram horas conversando, beijaram-se, namoraram, noivaram e estão casados até hoje. Ele jurou a ela que encontrara finalmente o par de olhos há tanto buscado.
E assim, na vida real se vai ouvindo tantas histórias de gente que jamais se conheceria se não fosse o advento Internet. Mundo distantes que se encontram, teclas que se unem, telas que se beijam, mãos virtuais que se tocam e sentem, sentem de verdade. Nesse mundo considerado estranho por muitos, atrás de cada computador há , de fato, um ser real, que, como tal, lógico, pode estar ali para o bem e para o mal. Há um provérbio que diz que “Estar em correspondência com um ausente equivale a encurtar metade da distância que dele nos separa.”
Nunca as distâncias se tornaram tão presentes, no entanto também (e sobretudo) nunca as ausências foram tão encurtadas, jamais as pessoas buscaram tanto pelo desconhecido que quer fazer-se conhecer com seus mistérios e delícias como nesse mundo da modernidade. Será a solidão?
A busca do “famoso” par perfeito prossegue. Há sites e mais sites de relacionamentos prometendo que ali se encontrará a metade da laranja, a outra face, a completude. Neles se pode ver o perfil do (a) candidato (a) a ser o dono ou dona do seu coração. Das frases de chamada mais engraçadas às mais sérias, das fotos mais sensuais ou ocasionais ou mesmo os sem rosto, um fato se percebe claramente: a busca incessante pela felicidade a dois, pelo carinho que qualquer ser humano precisa, pelo afeto que as palavras podem trazer junto ao alívio a corações que já buscaram tanto no mundo real e, talvez até por pura timidez, não encontraram. No despertar da curiosidade, ali, diante da tela, escrevem e soltam seus sentimentos. E Lêem o que vem do outro a compartilham o que o outro tem para dar. Nesse jogo interessante, mentiras ou verdades? Pouco importa.
Nunca os seres humanos tiveram tantas oportunidades de se expressar como agora. É a tecnologia a serviço do amor, quer seja ele virtual ou torne-se real, mas sobretudo a serviço da palavra e ela não foi feita para dividir ninguém. Aqui, na Internet, mais do que nunca “palavra é uma ponte onde o amor, vai e vem.”
E por falar nisso, com licença. Também eu estou à procura do meu par perfeito. Estou ou estava? Bom, acho que encontrei... Ah, palavra bendita, santo computador. Amém.