18 de maio de 2008

“O amor é o milagre da civilização”




Li em algum lugar, não lembro onde e nem sei seu autor que “A idade não nos protege contra o amor. Mas o amor, até certo ponto, protege-nos contra a idade”. Achei inteligente a frase e pus-me – o que não é novidade – e refletir. É fato que um Amor novo deixa a pele de qualquer ser humano mais bonita. Nas damas, o efeito é ainda mais doce. Estamos carecas de ver mulheres de todas as idades contando suas felicidades amorosas em belo tom de voz e cútis, com cabelos mudados e brilhantes e saúde para dar e vender. Quanto aos homens? Bom, alguns até deixam de ser carecas em nome de um novo sentimento, outros remoçam tanto que nem a família o reconhece mais. Os amigos perguntam qual a fórmula secreta e as outras mulheres passam a olhá-lo com muito mais interesse. Mas, um fato é comum sempre: os comentários. – Nossa, como estás bonito(a)! E a resposta é, quase sempre, uma letra de música sertaneja ”... é o amoor !” E é verdade. O amor modifica as pessoas, as faz mais jovens, mais brilhantes e felizes. Os sorrisos ficam mais sinceros, soltos, dá gosto de ver quando alguém está apaixonado e nós, os mais maduros, logo percebemos que há alguma ação do cupido no ar.
Se tudo dará certo ou não, se haverá a mais plena realização, pouco importa. Só o fato de estarmos apaixonados já basta para que o mundo que até ontem estava cor de chumbo passe a ser amarelo com bolinhas azuis, as nuvens se transformem em desenhos maravilhosos e a lua cheia seja vista como nunca - imensa e radiante. O frio vira aconchego e o calor, motivo para curtir o mar que nunca havia sido visto com esses olhos maravilhados, mesmo que o sujeito já tenha 50 anos. É, o amor faz isso e o faz com todos as pessoas, não tem escapatória. Até o mais sisudo dos mortais deixa-se levar por essa febre, essa leveza, esse não sei que que arrebata, arraza, domina e nos deixa com cara de bobos.
Mas vale a pena. Dizem que amar é também sofrer e não sou eu quem vai negar. Entretanto poderíamos arriscar uma modificação na frase: amar é viver e para viver há que se correr riscos. Risco de parecer ridículo, tolo, de ser julgado vulgar ou até imbecil, imoral, ganancioso, sem caráter. Quantos de nós que nos apaixonamos somos observados por olhares atravessados? Hummmm, ela é mais velha do que ele, aí tem... Ah, mas ela é beeemmmm mais nova, certamente gosta é do dinheiro dele. Ah, mas ele é rico, jovem e bonito, com certeza ela já sabia, por isso se insinuou tanto. Oh, lógico, feia do jeito que é, a grana do pai foi que fez com ele a amasse.
E assim, enamorados corações têm que enfrentar e correr os riscos que o amor apresenta. A sociedade aceita umas situações com mais facilidade do que outras . Se o homem é bem mais velho, tudo bem mas, seu contrário ainda escandaliza um bocado. Injusto: coração não tem idade e nem escolhe por quem se apaixona. Coração que ama só sabe de seu sentimento, nada escolhe e em tudo crê apenas para viver pois é para isso, afinal, que estamos aqui. Ou não? Se o “amor não tem idade, está sempre a nascer”, como afirmou Blaise Pascal, que importa quem nasceu primeiro? Alimentemos nossos amores com as matérias de que são feitos: sentimentos, purezas, trocas, encantos, mimos, tremedeiras, friozinhos na barriga. Um pouco de medo, certa dose de ciúmes ou inseguranças são normais e também servem como tempero mas, que o mais importante seja a aceitação de que se amamos é porque estamos vivos, afinal, “O amor é o milagre da civilização” (Stendhal)

13 de maio de 2008

Pra não dizer que não falei Bom Dia!


Não é sempre.
Há dias em que acordamos com tanto sono, tanta letargia que se olharem para a gente temos vontade de perguntar: o que foi, ô?Mas há dias diferentes. Em que acordamos com vontade de abrir as janelas – da casa e da alma – e vibramos ao ver que há ao menos uma possibilidade, por menor que seja, de que o sol venha e nos traga alegrias – e olha que podem ser pequenininhas. Nesses dias qualquer ruídinho infame nos faz sorrir. É quando dizemos estar de bem com a vida, e ela merece, vamos e venhamos!Pois bem. Hoje foi um dia assim e eu disse, lá no meu coração, tudo o que sentia e queria dizer talvez até com palavras mesmo. Expressei meus sentimentos e ninguém viu. O mundo e seus sortilégios nem सेम्प्रे। permite que vejam o que sentimos. É ou não é? Quem jamais se sentiu invisível e mudo diante do mundo, que se manifeste agora!Pois bem, hoje eu olhei em volta e soltei os verbos। Todos. Os adjetivos e predicados também. Os objetos, idem. E eis o que saiu:Bom dia, formigas todas do meu mundo, ratos, baratas, minha gatinha e borboletas, muitas borboletas com suas lagartas - promessas de novas e multicores borboletinhas. Bom dia, sombra minha, tudo bem contigo? Sentiu minha falta? Bom dia céu azul de outono, bom dia, sol, bom dia vento, astros, folhas de maio, bom dia saudade do mar de Copacabana, bom dia areia do Cambirela, bom dia amores que se foram, tristezas que partiram, felicidades que virão, abraços que não voltam, beijos que foram roubados. Bom dia, palavras que não ouso dizer para não magoar. Ah, engolidas palavras minhas... Bom dia, velho coração atormentado, atordoado, amedrontado, embolorado mas, ao mesmo tempo, reelaborado e enfeitiçado. Bom dia, corpo suspenso pela tarja preta, consciência esquecida pelo excesso de trabalho. Bom dia vida, passado, presente e futuro.
Bom dia a tudo que não existe, porque nada, enfim existe a não ser uma certa essência que controla tudo e que a gente não pode abraçar. Bom dia, minha reza, meu canto, a fé que ainda tenho e que, com certeza me mantém viva. Bom dia pitangas e acerolas do meu quintal, sempre lutando para renascer. Bom dia sorriso de um desconhecido na rua. Bom dia seres que fazem parte dos meus dias – alunos, amigos, filhos, amor, E se sobrou um bom dia sequer, saúdo a mim mesma, com um brinde de exaltação, ainda, a restos pulsantes de mim.Bom dia, leitores dessas linhas que, despretensiosamente comecei a escrever mas que não posso e nem devo (creio!) desprezar.Estou certa?

10 de maio de 2008

Com ternura e com afeto.


Nasceu pequenina, miúda, franzina. Comentário da vizinhança: “leva pra benzer. Essa menina é embruxada.” De nada valiam as reforçadas comidas que a mãe preparava, nem mesmo as homeopatias que o pai fazia.
Foi crescendo. Entre outros irmãos, era a mais velha. Ia para roça apanhar café, catar mata-pasto, cortar trato para o gado.
Brincar? Só aos domingos e tinha que voltar antes das cinco.
Aos quinze anos perdeu o pai. Ficaram seis filhos para ajudar a mãe. E a menina miúda, sem corpo ainda de mulher, teve que ver seu trabalho dobrar. Agora era questão de sustento. Lavava,, passava, fazia bolos e pães além de ter que dar banho nos irmãos menores.
Xingava! E a mãe dizia: cuidado... vais ter uma ninhada como eu tive.
Dezesseis anos.
Aprender costura com a tia mais velha. Profissão.
Dezoito.
Casou-se. Estava na hora. Precisava formar família, ter seus filhos.
Decepção: seu par não era tão perfeito. Continuou lutando, costurando.
Detestava fazer roupas de homem e pensava: faço os vestidos para fora e com o dinheiro pago as caças do meu marido.
Primeiro filho: homem. Segundo: homem. Terceiro: homem. Tomou uma calça velha, desmanchou, aprendeu o corte e começou a vestir, sem gastar muito, seus homenzinhos que mais pareciam princepezinhos, mesmo vestidos com sobras ou reformas de roupas velhas.
Dificuldades sempre.
Mudou de cidade, na esperança de uma vida melhor. Veio o quarto filho. Nasceu sentado. Quase se foi.
Sofria. Longe de casa, sua cidade, sua mãe...
Quatro filhos, falta de emprego, cidadezinha pequena e pobre. Ninguém pagava as costuras.
Sofreu a fome, a miséria, a humilhação porém ergueu a cabeça e prosseguiu.
Mudou de cidade, melhorou de vida e veio-lhe mais um filho.
Nasceu menina! Pequenina, miúda, franzina. “leva pra benzer, essa menina é embruxada.”
Princesa embruxada, amada, sonhada.
A vida melhor, enfim, deu um passo à frente. Lutava!
Costurava, fazia pirulitos de mel, pipocas. Já tinha meninos maiores para ajudar a vender.
Marido bebia, caía na rua, fazia escarcéu. Só ela forte, sempre, pensando no futuro.
Mais um filho. Homem novamente. Voltaram para a terra natal. Seguir em frente.
Finalmente foi reconhecida na cidade maior. Costureira de mão cheia, freguesas ricas, muito trabalho sempre, serões, cansaços.
Quarenta anos: mais um filho. Sonho de ter mais uma menina. Gravidez de risco. Tratamento, vitaminas.
Nasceu menina! Era o sonho realizado. Fim da trajetória mas era preciso continuar lutando.
Marido adoeceu gravemente. Não mais andava, nada fazia sozinho. Virou enfermeira. Enfermeira, costureira, cozinheira...
Com a viuvez, veio a depressão, a síndrome do ninho vazio começo a se instalar. Sofreu as dores da alma. Não titubeou. Prosseguiu.
Filhos criados, encaminhados. Comerciantes, contabilista, professora, coronel. Venceu!
Nunca fez cursos profissionalizantes. Estudou somente até a quarta série porém manteve a honestidade e a dignidade pela vida afora.

Conto-lhes essa história porque é verdadeira. Aqueles meninos todos eu os tive comigo, ao meu lado, me carregando no colo, me levando para brincar, escorregando comigo pelos barrancos, empurrando-me no carrinho de rolimã. A segunda menina – hoje com 30 anos é minha amada irmã, a qual já pude ajudar a criar e a quem amo como se minha filha fosse. Aquela outra, pequena, miúda e franzina sou eu e essa Mulher-Maravilha é minha mãe.
Sempre nos ensinou os melhores caminhos e se algum de nós deles se desviou, não foi por falta de lições ministradas por ela. Se não fosse por ela eu também não estaria aqui, escrevendo esse texto.
Hoje está com setenta anos. Tem dezessete netos e três bisnetos. Nos natais, às vezes, conseguimos todos nos reunir. Ela é o pilar que nos mantém de pé, Ela sustenta nossas existências. Sem Ela não sei o que seria de mim. Foi Ela quem sempre me deu os livros e a fome por saber.
É por isso que nessa véspera do dia das Mães, quero homenageá-la estendendo o meu afeto a todas a mães – ricas, pobres, amadas, amantes, sabidas, ingênuas, escritoras, leitoras, analfabetas, mulheres...
Também sou mãe e conheço a importância e a ternura de sê-lo.

Feliz dia das Mães – às mães de hoje, de ontem e de sempre.

5 de maio de 2008

Sobre amigos, flores e afinidades.


Meu bom amigo Chico mora numa cidade distante. Não a conheço. Sei que fica perto de uma outra localidade que tem um nome interessante – Feliz, ou Sorriso, não lembro direito. Imaginem vocês o que seria ou deve ser residir num lugar chamado FELIZ ou SORRISO? Eu moro em São José. Que graça tem isso? Cidades deviam ter nomes mais significativos ou menos religiosos, sei lá, mas isso também não vem ao caso, ou melhor à crônica. Volto ao Chico: também jamais o vi, a não ser por aqui, pela Internet – nessa máquina maravilhosa e maldita chamada computador. Porém o meu amigo – e sei que posso chamá-lo assim por tudo o que já sentimos de comuns acordos por aqui mesmo, via tela fria – é um tipo de homem misterioso, e grande por causa disso. E A D O R A sementear. Assim mesmo, desse jeito, ao pé da letra (se é que letra tem pé, ou cabeça – hoje dei para as reflexões ínfimas): sementear. E isso vai por tudo. Tem uma loja que vende sementes mas jamais se contentou só com elas. Além de vendê-las e plantá-las, germina no meu amigo a ânsia de ver florescer nos homens a imensa magia da semente de palavra. Chico, o meu amigo, escreve poesias. Imagina cenas que os homens do hoje já não conseguem ver mais, pois não possuem tempo para apreciar. Imagina sim, mas também somente esse solo não lhe é suficientemente fértil. Então fotografa, eterniza e, junto com sementes, (Amor-agarradinho, manjericão e cosmos – uma amarela bonita!) certa vez, enviou-me alguns frutos de suas colheitas – fotografias, poesias e uma caixinha pequenina cheia de sementinhas, cada qual com seu bilhetinho minúsculo explicando o quando, como e onde plantar.
Chico é o cara mais intenso que eu (Não) conheci (?) Não??? Só porque jamais nos vimos, porque nunca trocamos um abraço, porque a distância sempre se colocou entre nós? Mudo a frase imediatamente. Chico é o meu grande amigo pois o abraço afetuosamente a cada vez que aparece no orkut, no blog, num e-mail rapidinho. Ele é, talvez, até mais que meu amigo: um irmão de alma, coisa rara de se encontrar nesse mundão de meu Deus. E se chama Chico. Um nome também sem pompa, tanto quanto é o meu. Se não tivesse sobrenome ainda assim nada me faltaria para que ele fosse o meu amigo porque esses seres tão raros de se encontrar não necessitam ter muito mas sim, ser algo a mais.
Eu poderia ficar horas escrevendo sobre ele, mas de repente, lembrei de uma frase do Manoel de Barros, um poeta que amo demais, nascido à beira do rio Cuiabá e que reside hoje em Campo Grande (M.S) : “Tem mais presença em mim o que me falta”. Ou outra, dele também e essa serve como homenagem ao meu amigo-poeta-fotógrafo-irmão de alma, o Chico: “Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou”.
Quanto aos leitores, sei que também possuem amigos assim. Gente de verdade que nos ouve mais e nos diz muito, mesmo que seja de longe. Pessoa presente através de palavras que vêm pela tela, gente com quem conversamos sem jamais termos olhado em seus olhos, seres que jamais nos viram, porém, com certeza, sentiram o coração da gente disparar, o toque na mão suada, emocionada, diante da leitura de palavras das quais precisávamos tanto naquele exato momento. Sim, existe amizade sem toque e a Internet foi capaz de produzir cenas assim e essas coisas todas têm dimensões muito importantes. Moscas, passarinhos, flores, fotografias, palavras e pessoas, a inquietude e a infinitude diante da vida, tudo isso eu vi e vejo sempre quando lembro do meu amigo.
Um dia, quem sabe? , eu passe perto daquela cidade de nome bonito – Feliz? Sorriso? , entre na loja e pergunte ao vendedor: tem por aqui um plantador de sonhos e semeador de palavras chamado Chico?
E então, pela primeira vez entre nós, as palavras serão dispensadas.

P.S – O amor-agarradinho pegou! Aguardo os caramanchões para a primavera.