10 de maio de 2008

Com ternura e com afeto.


Nasceu pequenina, miúda, franzina. Comentário da vizinhança: “leva pra benzer. Essa menina é embruxada.” De nada valiam as reforçadas comidas que a mãe preparava, nem mesmo as homeopatias que o pai fazia.
Foi crescendo. Entre outros irmãos, era a mais velha. Ia para roça apanhar café, catar mata-pasto, cortar trato para o gado.
Brincar? Só aos domingos e tinha que voltar antes das cinco.
Aos quinze anos perdeu o pai. Ficaram seis filhos para ajudar a mãe. E a menina miúda, sem corpo ainda de mulher, teve que ver seu trabalho dobrar. Agora era questão de sustento. Lavava,, passava, fazia bolos e pães além de ter que dar banho nos irmãos menores.
Xingava! E a mãe dizia: cuidado... vais ter uma ninhada como eu tive.
Dezesseis anos.
Aprender costura com a tia mais velha. Profissão.
Dezoito.
Casou-se. Estava na hora. Precisava formar família, ter seus filhos.
Decepção: seu par não era tão perfeito. Continuou lutando, costurando.
Detestava fazer roupas de homem e pensava: faço os vestidos para fora e com o dinheiro pago as caças do meu marido.
Primeiro filho: homem. Segundo: homem. Terceiro: homem. Tomou uma calça velha, desmanchou, aprendeu o corte e começou a vestir, sem gastar muito, seus homenzinhos que mais pareciam princepezinhos, mesmo vestidos com sobras ou reformas de roupas velhas.
Dificuldades sempre.
Mudou de cidade, na esperança de uma vida melhor. Veio o quarto filho. Nasceu sentado. Quase se foi.
Sofria. Longe de casa, sua cidade, sua mãe...
Quatro filhos, falta de emprego, cidadezinha pequena e pobre. Ninguém pagava as costuras.
Sofreu a fome, a miséria, a humilhação porém ergueu a cabeça e prosseguiu.
Mudou de cidade, melhorou de vida e veio-lhe mais um filho.
Nasceu menina! Pequenina, miúda, franzina. “leva pra benzer, essa menina é embruxada.”
Princesa embruxada, amada, sonhada.
A vida melhor, enfim, deu um passo à frente. Lutava!
Costurava, fazia pirulitos de mel, pipocas. Já tinha meninos maiores para ajudar a vender.
Marido bebia, caía na rua, fazia escarcéu. Só ela forte, sempre, pensando no futuro.
Mais um filho. Homem novamente. Voltaram para a terra natal. Seguir em frente.
Finalmente foi reconhecida na cidade maior. Costureira de mão cheia, freguesas ricas, muito trabalho sempre, serões, cansaços.
Quarenta anos: mais um filho. Sonho de ter mais uma menina. Gravidez de risco. Tratamento, vitaminas.
Nasceu menina! Era o sonho realizado. Fim da trajetória mas era preciso continuar lutando.
Marido adoeceu gravemente. Não mais andava, nada fazia sozinho. Virou enfermeira. Enfermeira, costureira, cozinheira...
Com a viuvez, veio a depressão, a síndrome do ninho vazio começo a se instalar. Sofreu as dores da alma. Não titubeou. Prosseguiu.
Filhos criados, encaminhados. Comerciantes, contabilista, professora, coronel. Venceu!
Nunca fez cursos profissionalizantes. Estudou somente até a quarta série porém manteve a honestidade e a dignidade pela vida afora.

Conto-lhes essa história porque é verdadeira. Aqueles meninos todos eu os tive comigo, ao meu lado, me carregando no colo, me levando para brincar, escorregando comigo pelos barrancos, empurrando-me no carrinho de rolimã. A segunda menina – hoje com 30 anos é minha amada irmã, a qual já pude ajudar a criar e a quem amo como se minha filha fosse. Aquela outra, pequena, miúda e franzina sou eu e essa Mulher-Maravilha é minha mãe.
Sempre nos ensinou os melhores caminhos e se algum de nós deles se desviou, não foi por falta de lições ministradas por ela. Se não fosse por ela eu também não estaria aqui, escrevendo esse texto.
Hoje está com setenta anos. Tem dezessete netos e três bisnetos. Nos natais, às vezes, conseguimos todos nos reunir. Ela é o pilar que nos mantém de pé, Ela sustenta nossas existências. Sem Ela não sei o que seria de mim. Foi Ela quem sempre me deu os livros e a fome por saber.
É por isso que nessa véspera do dia das Mães, quero homenageá-la estendendo o meu afeto a todas a mães – ricas, pobres, amadas, amantes, sabidas, ingênuas, escritoras, leitoras, analfabetas, mulheres...
Também sou mãe e conheço a importância e a ternura de sê-lo.

Feliz dia das Mães – às mães de hoje, de ontem e de sempre.

9 comentários:

Unknown disse...

Minha amiga a sua homenagem à sua mãe é muito linda e emocionante.
Todas nós filhas e mães temos uma história, várias histórias.
Vc é uma mulher de muita fibra, uma mãe maravilhosa, uma irmã espetacular e uma amiga fantástica.
FELIZ DIA DAS MÃES!!!!

Unknown disse...

Nossa, tu e a tua mãe tem algo em comum são Mães que lutam até o fim!
Um Feliz dis das mães pra você e pra tua mãe.

;***

Anônimo disse...

Nossa... É até inspirador! Acho que vou dar uma de "copycat", como dizia minha amiga e vou contar a minha também, no fotolog! Sua família é grande, como a minha!
Aliás, cada família com sua história, né? seja ela mais louca, menos louca, sempre tem algo em comum, que é esse amor incondicional, a fonte da nossa força.
Muito bom, gostei!
Ótimo domingo mais que especial pra você e pra toda sua enooorme família, haha!
Beijos, Rose! :*

Anônimo disse...

Muito lindo, professora!
Adoreii :D
Um Feliz dia das Mães para você!!
Beijo

Anônimo disse...

lindo lindo lindo! amei
mãe é tudo né, sem ela não somos nada, Tenho muito orgulho da minha e com certeza vou espelhar nela.
E a sua Roseli pelo que eu li, é uma mulher forte e vencedora!
Feliz dias das mães pra voce e para sua mãe, beijos lindona

Expedito Steffanello - Sinop, MT disse...

Oi, dá um abraço de agradecimento na tua mãe por mim; descobri que te devo a ela... Bj.

Anônimo disse...

nossa, que história!
e percebo que vc tambem é muito guerreira, e luta pelos seus ideais. igualzinha sua vó e mãe.

Linda hitória mesmo!

é por isso que nunca me arrependo de espiar o teu blog :)
Espero continuar lendo teus textos, crônias e por ai vai..

beijao prof!! feliz dias das mãe!pc: atrasado, mas ta valendo. hihih

Anônimo disse...

Ai, Rose... Pode tentar me descrever, sim! hehe.
Adorei essa história. Sei que é verdadeira, pois minha bisavó passou por algo parecido. Não sei minuciosamente, mas poderia lhe contar algum dia desses. Guerreiras, essas mulheres, não? As meninas-mulheres de hoje não são nada perto delas, quando tinham a minha idade. Beijos, Rose.

Lú Borges disse...

Nossa... realmente incrível. não sei porque, mas no momento em que bati os olhos nas palavras elas me chamaram mais a atenção do que os outros. mas é claro- a sua vida!
hehe

beijinhos rose